“Papo Editorial” com Pedro Almeida

“Papo Editorial” com Pedro Almeida

19-10-21 | Notícias | Faro Editorial |

E o editor? Quer o quê?

 

Ontem, numa live, expliquei mais uma vez uma pergunta que editores ouvem sempre de autores: o que você está procurando?

Eu poderia dizer: um romance adulto, uma trama de terror sobrenatural, um drama de época, um romance com gangster machão sedutor, uma ficção científica com romance LGBT, uma distopia juvenil situada na África, um romance cheio de representatividades parecendo coleção da Bennetton (os velhos entenderão), mas nada disso garantiria a um autor que o que ele vai escrever será o que tenho na cabeça.

Por mil motivos, mas o mais importante: nenhum editor sabe o que quer até encontrar.  Não se trata do tema, mas sim, ele é importante. É a escrita, o ritmo, o vocabulário, as personagens, os diálogos, a tensão, a época, o livro que o editor disputou num leilão e acaba de perder e quer se vingar de seu prejuízo contratando uma obra semelhante… um trauma de infância, um problema que ele mesmo quer resolver intimamente.

Esses dias assisti a um filme Our Friend, e fiquei encantado. Pensei. Faltam livros contemporâneos em que o tema seja a virtude. Aí lembrei como os romances de Jane Austen – em que a virtude é sempre um tema forte – nunca perdem a perenidade, o interesse dos leitores.

Comento disso também porque há uma distância enorme sobre o que as pessoas pensam, as ideias que funcionam na imprensa, na coluna TAB UOL e redes sociais, e sobre o que a grande parte dos leitores realmente quer. Não indo muito longe, se dependesse das redes sociais, 50 tons de cinza seria um fracasso. Nunca vi tanta saraivada de críticas. Era para ser um fiasco e foi o oposto. E não só no Brasil. No mundo todo foi um estrondoso sucesso.

Há muitas coisas na literatura que não podem ser explicadas, muito menos replicadas. Ok, sempre tem livros que vão na cola de um sucesso. Um ou outro alcança bons resultados, mas a maioria, não.  Então, sempre recomendo usar o sucesso para ler a tendência. E sempre um editor pode escolher um livro, e um autor pode criar uma história, ambos observando a tendência, sem ferir seus preceitos.

Fico por aqui porque tenho de voltar para a leitura de livros atrasados. O trabalho de um editor nunca acaba.

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Termos mais procurados

Arquivo