“A Vingança de Gutemberg” com Diego Drumond

“A Vingança de Gutemberg” com Diego Drumond

25-05-21 | Notícias | Faro Editorial |

O post de hoje vai ser um pouco diferente. Há um artigo muito interessante sobre a força dos livros físicos que foi publicado em 2018 por uma conceituada consultoria americana e hoje eu trago a versão traduzida aqui. Vale a leitura!

 

A vingança de Gutenberg

Por que a venda de livros físicos é a única que está crescendo

Da imprensa escrita aos computadores pessoais, a indústria midiática e do entretenimento tem um longo histórico a aderir inovações disruptivas, mas a rápida mudança do físico para o digital na última década foi realmente revolucionária. No geral, as mídias físicas sofreram muito. Jornais e revistas impressos migraram para versões on-line, enquanto DVDs e CDs foram substituídos por streamings de filmes e música.

 

Já a mídia impressa mais antiga do mundo está se mantendo muito bem, obrigado. De acordo com uma pesquisa da PwC’s, o mercado consumidor de livros físicos e impressos está se mantendo firme em um mundo cada vez mais digital. Entre os anos de 2018 e 2022, espera-se que as vendas de mídias físicas de videogame, vídeo e música diminuam ano a ano, em alguns casos em porcentagem de dois dígitos. Em contraste, as vendas de livros físicos devem crescer, modestamente, cerca de 1% ao ano, todos os anos. Até 2022, é esperando que consumidores em todo o mundo gastem mais de 50 bilhões de dólares em livros de formato físico ou em áudio (ou seja, não e-books) em comparação com 47,8 bilhões de dólares gastos em 2017.

 

A Association of American Publishers (AAP) informou que nos Estados Unidos os livros impressos, principalmente os de capa dura, continuam sendo uma fonte de crescimento para as quase 1.200 editoras da associação. Um relatório revelou que a receita de livros trade aumentou de 96 milhões (1,3%) para 7,6 bilhões de 2016 a 2017. O crescimento foi atribuído a um aumento de 3% na categoria de livros adultos, que representa mais de 65% de todas as receitas de livros comerciais.

 

Ao mesmo tempo, o número de pessoas que aderem a dispositivos de leitura como kindle ao invés de livros físicos atingiu seu limite. De acordo com a AAP, as vendas de e-books em 2017 caíram pelo terceiro ano consecutivo, queda de 4,7% em relação a 2016, de 1,16 bilhões para 1,1 bilhão.

 

Qual a explicação? Vários fatores estão em jogo.

 

“As pessoas amam imprimir livros por alguns motivos” diz Marisa Bluestone, diretora de comunicações da AAP, citando a questão tátil dos livros em relação a outras mídias. “A sensação do papel nas suas mãos, o cheiro dos livros, exibir uma estante com seus livros em casa” são todos fatores importantes que sustentam o crescimento contínuo das vendas de livros impressos segundo Marisa.

 

Já Jim Milliot, diretor editorial da Publishers Weekly, aponta para um sintoma da vida cibernética conhecido como fadiga de tela. “As pessoas que ficam olhando para telas o dia todo no escritório não querem voltar para casa e olhar para outra tela. Elas ficam felizes em ler o bom e velho livro,” diz ele.

 

A demografia também desempenha um papel significativo, aponta James DePont, um auditor da PwC. “É um fato bem estabelecido que os livros impressos inclinam para um público com mais idade. Acrescentando que os babyboomers ficarão nessa faixa por um tempo, a indústria também foi impulsionada por um grupo demográfico mais jovem que compra livros vinculados a franquias de filmes de grande bilheteria, como Harry Potter e Jogos Vorazes”.

 

Os modelos de negócio, especialmente aqueles que reduzem os preços unitários por meio de modelos de streaming ou assinatura, também ajudam a explicar as diferentes trajetórias de livros e outras mídias físicas.

 

Veja como os mercados físicos de música e vídeo foram prejudicados por modelos de negócio disruptivos. O mundo evoluiu rapidamente para que os consumidores pudessem ter acesso a versões digitais idênticas da mídia física por uma pequena fração do custo. Após a confusão em torno da questão do download gratuito, como músicas no antigo Napster, a Apple montou o iTunes que vendia música por 99 centavos cada. Em seguida vieram os serviços de streaming à vontade como Spotify e outros que hoje oferecem versões gratuitas sem anúncios por apenas 10 dólares ao mês. Ou seja, os consumidores de música podem comprar muito mais música em sua forma digital por menos dinheiro do que na forma física.

 

A Netflix estimulou o modelo de locação de filmes enviando DVDs pelo correio, depois passar a fazer streaming de filmes e programas de TV até chegar ao ponto de desenvolver suas próprias produções. Hulu e Amazon seguiram o exemplo. Netflix e Amazon tem palnos de assinatura aa partir de oito dólares por mês, enquanto o Amazon Prime por 99 dólares ao ano inclui acesso a filmes, música e ainda frete grátis para produtos Amazon. Compare isso com uma assinatura de TV a cabo, por cerca de 100 dólares ao mês, ou a compra de DVDs por em média de 15 a 30 dólares cada, ou CDs por pelo menos 10 dólares. Não tem como negar que a economia para os consumidores é atraente.

 

Os e-books pareciam estar em um caminho semelhante quando chegaram ao cenário editorial há quase uma década. A Amazon abriu o caminho, oferecendo livros digitais por 10 dólares cada. A Apple também foi atrás de um pedaço dessa torta eletrônica, mas a preços de 13 a 15 dólares por título. A categoria ficou confusa, no entanto, quando o Departamento de Justiça dos EUA entrou com uma ação antitruste contra a Apple e as cinco grandes editoras de livros em 2012, alegando que eles haviam conspirado para aumentar o preço dos e-books. A Apple pagou uma multa de 450 milhões de dólares em 2016 e, no ano passado, a Amazon comandava mais de 83% do mercado de e-books.

 

Veja o ponto principal: hoje em dia, a diferença de preço entre um livro impresso e um e-book não é grande. Por exemplo, a Amazon oferece o best-seller The President Is Missing, de Bill Clinton e James Patterson, por 17,99 dólares em capa dura, 12,38 em brochura e 14,99 em e-book. Vale a pena mencionar, também, que surgiram modelos de “streaming” para e-books. Os dois principais são o Scribd (9 dólares por mês) e o Kindle Unlimited da Amazon (10 dólares por mês) – mas nenhum deles atingiu o nível de sucesso da Netflix ou do Spotify , uma possível razão é que títulos das cinco maiores editoras americanas não são oferecidos.

 

Um formato de livros eletrônicos, no entanto, está crescendo rapidamente. As vendas de audiolivros nos EUA aumentaram 29,5% no ano passado, de acordo com a AAP, de 265 milhões para 343 milhões de dólares em 2016. Isso ainda é apenas um pequeno nicho para editoras, mas “eles não têm tanto medo de canibalizar as vendas impressas como tinham com os e-books”, diz Milliot.

 

Há outro fator que continua a apoiar a venda de livros físicos: a sobrevivência teimosa dos livreiros, especialmente os independentes que sofreram uma série de ataques como grandes redes de livrarias e gigantes da internet como Amazon.

 

As livrarias independentes estão ganhando espaço. Como o professor da Universidade de Harvard Ryan Raffaelli escreveu na Harvard Business Review, a indústria de livrarias independentes está experimentando um “ressurgimento tecnológico”, já que o número de livrarias independentes nos EUA aumentou 35% entre 2009 e 2015, de 1.651 para 2.227.

 

Uma dinâmica semelhante, notavelmente, não ocorreu entre os varejistas de música e vídeos físicos. A Blockbuster está reduzida a uma única loja remanescente em Oregon. E as cadeias de lojas de música já se foram.  Livrarias independentes resistem expandindo além dos livros impressos para oferecer uma variedade de presentes e artigos de papelaria de alta qualidade, organizando eventos de autógrafos ou abrindo um café dentro da loja.

O artigo original você pode encontrar aqui: https://www.strategy-business.com/article/Gutenbergs-Revenge?gko=23435

 

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